As metodologias ágeis são um modelo de gerenciamento de projetos que nasceu como uma resposta ao método tradicional, que envolve longas fases de planejamento seguidas por uma única execução — o sistema também conhecido como Waterfall.
Cada vez mais utilizados em negócios de todos os tipos, frameworks ágeis como Scrum, Kanban e XP permitem gerar mais valor em menos tempo e de forma bem mais adaptável. Para isso, se valem de ciclos de produção mais curtos e técnicas inovadoras de planejamento.
Neste artigo, vamos explicar melhor o que são as metodologias ágeis, em que contexto elas foram criadas e como funcionam. Também serão detalhados alguns dos principais frameworks existentes e como implementá-los na prática para produzir mais em menos tempo. Siga conosco e aproveite a leitura!
O que são metodologias ágeis?
O método ágil é o nome dado para um conjunto de metodologias e frameworks distintos. Sua proposta central é acelerar o planejamento e execução de projetos com times autogeridos e multifuncionais, trabalhando em ciclos de produção curtos, iterativos e incrementais.
No método ágil, também chamado de Agile, entregas rápidas são incentivadas, assim como flexibilidade e resposta a mudanças. Apesar de ter nascido no contexto do desenvolvimento de softwares, frameworks como o Scrum já são empregados em diferentes tipos de projetos.
As metodologias ágeis são uma reação ao método tradicional de gerenciamento de projetos, que usualmente envolve uma longa fase de planejamento seguida por uma única etapa de execução. Por isso, é chamado de Waterfall, ou método em cascata, uma referência ao fluxo de trabalho linear, com “saltos” entre cada fase.
O próprio método em cascata também surgiu com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de softwares, agregando diversas técnicas e boas práticas de gerenciamento de projetos em um único modelo.
Mas, com o passar dos anos, esse sistema se tornou antiquado, especialmente, quando é preciso lidar com projetos complexos, criativos e adaptativos como softwares, que nem sempre começam com o mesmo escopo que terminam.
Como surgiu o método ágil?
Insatisfeitos com os resultados e falhas da forma tradicional de gerenciamento de projetos, diversos desenvolvedores começaram a elaborar alternativas. Elas tinham em comum a adaptabilidade, o desenvolvimento contínuo e a geração de valor maior em menos tempo.
Uma das principais inspirações para isso foi o Sistema Toyota de Produção, ou Toyotismo, que revolucionou os processos de trabalho na reconstrução da indústria japonesa após a segunda guerra mundial. Diferente do Fordismo, que era o paradigma vigente na maior parte das indústrias do mundo, o Toyotismo tem como foco potencializar a produtividade e a eficiência sem gerar estoques e eliminando o desperdício ao máximo. Esses ideais também incentivaram o Lean Manufacturing — ou, simplesmente, Lean.
Com a esperança de unir esforços para revolucionar o desenvolvimento de softwares, um grupo de desenvolvedores se reuniu em um resort de inverno nas montanhas nevadas do estado de Utah, em fevereiro de 2001, para discutir o tema. Esse encontro é considerado o grande marco do nascimento do Agile, ainda que algumas técnicas tenham sido concebidas antes dele.
Na época, os precursores das metodologias ágeis eram os chamados “métodos leves” de gerenciamento de projetos, que faziam contraposição aos sistemas tradicionais, que eram considerados “pesados”.
Após longas conversas, os 17 líderes chegaram à conclusão de que, ainda que discordassem em muitas coisas, estavam de acordo com princípios básicos que norteavam seus métodos de trabalho. Nesse momento, foi redigido o Manifesto Ágil, um documento extremamente breve e direto, com quatro valores principais:
- indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;
- software em funcionamento mais que documentação abrangente;
- colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
- responder a mudanças mais que seguir um plano.
Os autores do manifesto concordaram que, ainda que exista valor nos itens à direita, os itens à esquerda são mais importantes. Entre os nomes que assinaram o manifesto, estão Jeff Sutherland e Ken Schwaber, os criadores do Scrum, e Martin Fowler, um dos precursores do Extreme Programming, e referência em arquitetura de softwares.
Após a publicação do manifesto ágil, diversos frameworks com base nesses princípios foram formalizados. O Agile cresceu em popularidade ao longo dos anos e até mesmo empresas tradicionais começaram a enxergar a relevância das metodologias que conseguiam entregar mais valor em muito menos tempo.
Como funcionam as metodologias ágeis?
Para entender como funcionam as metodologias ágeis, antes, vale a pena avaliar os principais desafios enfrentados pelos métodos tradicionais de gerenciamento de projetos. Isso é definido principalmente pelo guia PMBOK, o Project Management Body of Knowledge, um conjunto de boas práticas editado pelo PMI, o Project Management Institute.
PMBOK: desafios na geração de valor
No modelo do PMBOK, a primeira etapa de qualquer projeto envolve a avaliação de premissas e definição do termo de abertura do projeto. Depois disso, são elaborados o escopo e o planejamento da execução, incluindo uma estimativa de custos e de prazos. Só após essa etapa, é iniciada a execução em si, que é orientada e monitorada pelo gerente de projetos.
Apesar de parecer bem eficaz, os problemas desse modelo engessado comprometem o resultado do desenvolvimento de softwares. O principal desafio aqui é entregar valor. Ainda na fase de definição de escopo, é comum a inclusão de funcionalidades que acabam sendo pouco utilizadas e, ainda assim, consomem muito do trabalho dos desenvolvedores.
Como toda essa negociação é realizada antes mesmo de o trabalho começar, muitas dificuldades que ainda precisam ser descobertas se tornam imprevistos ao longo da execução e tumultuam o planejamento realizado anteriormente.
Por fim, os projetos no modelo tradicional são pouco adaptáveis. Não é raro que, após um longo desenvolvimento, o software seja lançado já obsoleto, com a oportunidade que motivou sua criação já expirada.
Método ágil: iterações curtas e foco nas necessidades reais
No método ágil, a ideia é entregar valor em iterações curtas, que já são demonstradas ao cliente e adaptadas de acordo com as necessidades reais dos usuários. Isso evita o desperdício com funcionalidades inúteis e, ao mesmo tempo, permite que, em muito pouco tempo, o cliente já enxergue valor no produto que está sendo desenvolvido.
Portanto, em vez de um longo ciclo de planejamento e execução, o trabalho geralmente é fragmentado em iterações menores, com objetivos mais modestos que, aos poucos, se transformam em um produto final. Além disso, no método ágil, os times são autogerenciados. Isso significa que a figura autocrática que concentra todas as responsabilidades e poderes, como um gerente de projetos, precisa acompanhar as etapas e não ficar como o intercessor das atividades que ficam sob diferentes responsabilidades.
Cada desenvolvedor é responsável pelo seu próprio trabalho e a equipe atua com maturidade e ferramentas que dispensam o trabalho de juntar informações entre equipes ou pessoas diferentes. Essa atribuição de responsabilidades também é vista no momento de estimar os prazos e organizar o cronograma, pois não existe ninguém melhor para estimar prazos do que a equipe responsável por executar as tarefas, de acordo com requerimentos expressados pelos clientes e usuários.
O resultado disso é que as metodologias ágeis conseguem produzir valor em menos tempo e com um custo muito menor. Diminuindo desperdícios e com muita adaptabilidade, o desempenho é maximizado e o produto é sempre incrementado.
Por que utilizar metodologias ágeis em projetos?
Uma das principais motivações para adotar uma metodologia ágil em um projeto é a possibilidade de realizar mais com menos. Além disso, as técnicas dos frameworks ágeis permitem a construção de produtos com entregas de valor aos clientes finais.
Um projeto é definido como um empreendimento colaborativo que objetiva realizar algo que não existia anteriormente, em um tempo definido. A principal diferença entre um projeto e uma rotina de trabalho é que o projeto é algo único, com início e fim, enquanto a rotina de trabalho é constante e repetitiva.
Projetos considerados complexos são aqueles que envolvem a integração de áreas diferentes. Um projeto de marcenaria, por exemplo, pode ser considerado simples, mesmo se for grande em escala e nível de detalhamento, pois envolve relativamente poucas disciplinas.
Já a produção de um filme para o cinema é um projeto complexo, que combina as áreas de atuação, fotografia, direção, áudio e muitas outras. Quanto mais setores precisam interagir, mais complexo é o projeto.
O desenvolvimento de softwares é quase sempre um projeto complexo. Além de integrações dentro da própria área de tecnologia, como o trabalho do front-end e do back-end, ele usualmente envolve design gráfico, negócios e a compreensão de funcionalidades que estão relacionadas com o mercado em que ele será utilizado.
Para criar um software de contabilidade, por exemplo, é essencial que exista uma interação entre os desenvolvedores e os contadores que utilizarão o produto.
As metodologias ágeis favorecem a colaboração entre diferentes setores, formando equipes multidisciplinares, que trabalham juntas para alcançar um objetivo comum. A troca de informações é constante, assim como os testes no próprio software, que permitem a identificação exata daquilo que é interessante para o projeto na prática.
No Agile, todo o trabalho é constantemente verificado, tanto pela equipe de desenvolvimento quanto pelo cliente final. É como acompanhar a construção de uma casa: ainda que o leigo não entenda os detalhes da obra, ele será capaz de notar se algo fora do comum for feito, como um banheiro no lugar errado ou uma funcionalidade que não atende a nenhuma demanda real.
Quais os benefícios de utilizar o Agile no desenvolvimento de software?
Com as metodologias ágeis, é possível desenvolver projetos com escopos flexíveis e de alta complexidade, o que é fundamental quando é preciso inovar.
A entrega antecipada de valor faz com que, muitas vezes, um produto já seja disponibilizado para uma parte do público antes mesmo de ser efetivamente concluído, o que é algo apreciado por todo tipo de cliente.
Outra vantagem muito clara do método ágil é a leveza dos frameworks. Os processos, cerimônias e responsabilidades são facilmente absorvidos pelos times. Enquanto o PMBOK é um compilado com mais de 600 páginas de boas práticas, o guia do Scrum não chega a 20 páginas e descreve todo o funcionamento básico do framework.
A melhoria contínua também é potencializada como método ágil. O desenvolvimento em iterações incrementais faz com que, a cada ciclo de produção, o produto se aprimore de acordo com o feedback do cliente e de usuários, o que significa uma qualidade melhor nas entregas.
Quais os principais tipos de metodologias ágeis existentes?
Existem dezenas de frameworks e metodologias ágeis desenvolvidas com base nos valores e princípios do Manifesto Ágil. Alguns deles nasceram antes mesmo do manifesto, como o Scrum, de 1995, e o XP, de 1997.
A recomendação para quem quer estudar o desenvolvimento ágil de projetos é se especializar em um desses frameworks, buscando cursos e certificações na área. Mas, para entender melhor o que é o Agile e o que todas as metodologias têm em comum, vale a pena aprender como os principais modelos funcionam. Conheça alguns deles!
1. Scrum
Extremamente versátil e simples, o Scrum se tornou o mais popular dos frameworks ágeis pela sua capacidade de organizar times multidisciplinares com leveza não só no desenvolvimento de software, mas também em outros setores. Isso é algo explorado por Jeff Sutherland, um dos criadores do Scrum, no livro “Scrum: a Arte de Fazer o Dobro do Trabalho na Metade do Tempo.”
No Scrum, o trabalho é realizado em unidades de tempo denominadas de Sprints, que são iterações que podem ter entre uma e quatro semanas. Cada Sprint inicia com uma reunião de planejamento, que tem hora para começar e terminar, de acordo com a duração da Sprint.
A cada dia, é feita uma breve reunião de transparência entre a equipe de, no máximo, 15 minutos, chamada de Daily Scrum, em que todos compartilham o que estão realizando no projeto.
Ao final da iteração, são realizadas outras duas cerimônias importantes: a Review, que é uma apresentação e discussão sobre a entrega da Sprint, e a Retrospectiva, voltada para o aprimoramento do processo de trabalho e das relações entre a equipe. O Scrum é conduzido por três papéis:
- o Scrum Master, que é um líder-servo responsável por facilitar as cerimônias e remover obstáculos do caminho do time;
- o Product Owner, que define a visão do produto e expressa isso para o restante da equipe;
- e o time de desenvolvimento, que é uma equipe multidisciplinar responsável pela execução do trabalho.
Para documentar o projeto, o Scrum se vale de um artefato chamado Product Backlog, que é uma lista de funcionalidades que precisam estar presentes e descrevem o produto final. Em geral, são escritas em um formato padrão, compartilhado entre o Product Owner e os desenvolvedores.
Além disso, em cada Sprint, é selecionado um Sprint Backlog, uma seção do Product Backlog com as tarefas que serão executadas naquela iteração. No dia a dia, a maior parte das equipes de Scrum utiliza um quadro Kanban para organizar o trabalho.
Concebido como algo simples, o Scrum foi feito para ser adaptado de acordo com as demandas de cada empresa. Portanto, é comum encontrar variações do modelo, com incrementos como o Poker Planning, gráficos de Sprint Burndown e outros elementos extras.
2. Kanban
O Kanban é uma ferramenta que nasceu dentro do Toyotismo com o objetivo de controlar o fluxo de produção e estoques em fábricas. Ele consiste em um quadro que sinaliza de forma clara e objetiva o trabalho que está sendo realizado e em qual etapa cada tarefa está.
Em muitas empresas modernas, o Kanban é feito com quadros com cartões adesivos pregados, ou então, quadros virtuais como o do Trello. Utilizado dentro de outros frameworks, como o Scrum, o Kanban também pode ser aplicado separadamente, como uma forma de aprimorar a transparência e a dinâmica dos projetos de uma empresa.
Em um quadro Kanban comum, existem pelo menos quatro listas:
- uma que lista funcionalidades não detalhadas que fazem parte do escopo do projeto;
- outra de tarefas já refinadas que precisam ser feitas;
- uma terceira, de tarefas em execução;
- e a última, de tarefas finalizadas.
A ideia aqui é que, todos os dias, as tarefas avancem no quadro, permitindo que toda a equipe consiga visualizar o progresso do trabalho.
3. Dynamic Systems Development Method (DSDM)
O Dynamic Systems Development Method, ou DSDM, é uma metodologia ágil que enfatiza o envolvimento do usuário com a produção e a realização de iterações incrementais.
Um pouco mais estreito e engessado que o Scrum, pode ser uma alternativa interessante para projetos com alto risco e escopos amplos, ou empresas que ainda não estão preparadas para abraçar uma cultura de trabalho horizontal e autogerida.
No DSDM, o projeto é dividido em três fases: pré-projeto, ciclo de vida e pós-projeto. Em cada uma delas, existem boas práticas e técnicas específicas.
4. Extreme Programming (XP)
O Extreme Programming é uma das metodologias precursoras do Agile, focada no desenvolvimento de software com entregas constantes, testes regulares e revisão de código.
Apesar de ser relativamente complexo quando comparado com outros métodos ágeis, o XP é extremamente rápido e, como tudo é sempre verificado, o método ficou famoso pela entrega de código de qualidade e redução no retrabalho.
5. Lean Software Development (LSD)
O Lean Software Development, ou LSD, pode ser compreendido como uma transição dos valores e práticas do Lean Manufacturing para o contexto do desenvolvimento de software. Portanto, nesse método, existe um grande foco em uma operação enxuta, a redução do desperdício e a melhoria contínua.
Apesar de poder ser implementado como uma metodologia por si só, é mais comum que o LSD seja combinado com outros frameworks mais práticos, como o Scrum.
6. Crystal Clear
Outro precursor do Agile, o Crystal Clear foi concebido por Alistair Cockburn nos anos 90, quando ele era desenvolvedor de softwares na IBM. Nesse modelo, além de entregas frequentes e melhoria contínua, a transparência e comunicação entre os times e os usuários é outro foco.
Para aprimorar os produtos, o Crystal Clear recomenda o acesso antecipado para grupos de usuários avançados que poderão colaborar com feedbacks valiosos para o produto final.
Como utilizar as metodologias ágeis em projetos?
A implementação de uma metodologia ágil em uma empresa pode ser um desafio por si só, especialmente, em negócios mais tradicionais, com hierarquias engessadas e dificuldade de inovação.
No Scrum, por exemplo, existe uma grande ênfase na autogestão e na fragmentação do papel de liderança, o que pode gerar atritos em empresas que não estão preparadas para adotar um sistema tão moderno, ou times que não tenham maturidade para lidar com essa responsabilidade.
Portanto, o primeiro passo para aderir ao método ágil é investir na preparação da empresa e dos desenvolvedores que serão expostos à metodologia. Para isso, é recomendável a realização de cursos, treinamentos e a exigência de profissionais certificados, que possam instruir os pioneiros dentro da companhia.
Outra premissa básica para uma boa implementação do Agile na empresa é uma comunicação eficiente. As metodologias ágeis prezam pela transparência e priorizam isso em suas práticas, mas é importante que essa visão faça parte dos valores culturais da empresa.
A busca por feedback constante e a melhoria contínua também são pilares das metodologias ágeis e precisam ser inseridos na cultura organizacional do negócio. Isso requer um investimento e o exemplo da gestão, pois não é algo que acontece da noite para o dia.
O método ágil promove a organização e produtividade do time, facilitando o planejamento e dificultando a distração e procrastinação. Se for bem-feito, permite saber a capacidade de entrega da equipe, o que dá previsibilidade e a possibilidade de saber em quanto tempo um projeto pode ser concluído. Esse tipo de informação é muito valorizado no desenvolvimento de software.
Além disso, a capacidade de adaptação das metodologias ágeis é algo que se conecta com qualquer proposta de inovação. É esperado que, após a definição do escopo inicial, um software se transforme de acordo com os desafios encontrados, a reação dos clientes, a mudança do mercado e a própria evolução da tecnologia.
Em um cenário de transformação digital, a velocidade de entrega não é só um fator quantitativo: é algo fundamental para a eficiência e competitividade de um software, que precisa explorar oportunidades de mercado tangíveis e, muitas vezes, passageiras.
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